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Terça-feira, 8 set 2009 - 09h25

Cientistas descobrem a Pedra de Roseta dos sistemas estelares

Durante uma expedição ao Egito em 1799, o exército napoleônico descobriu uma espécie de bloco de granito contendo diversas inscrições em grego e no indecifrável hieróglifo egípcio. Anos depois, Jean-François Champollion descobriu que os textos esculpidos eram os mesmos e o bloco foi usado como chave para a tradução dos hieróglifos e compreensão da cultura egípcia. O bloco foi batizado de Pedra de Roseta, por se localizar próximo dessa cidade, ao leste de Alexandria.


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Recentemente, cientistas europeus tiveram também seu momento de Champollion e descobriram o que se pode chamar de Pedra de Roseta celestial. Utilizando dados do telescópio espacial Newton, de raios-x, pesquisadores da Agência Espacial Européia se depararam com um tipo diferente de objeto ao redor de uma estrela e que poderia ser a chave para a compreensão de alguns sistemas estelares.

Os astrônomos estavam na pista desse misterioso objeto desde 1997, quando descobriram que algo misterioso estava emitindo raios-x próximo à brilhante estrela HD 49798 e com ajuda do telescópio Newton o enigma foi desvendado. As observações mostraram que o estranho objeto é uma estrela anã branca, o coração de uma estrela já morta, mas pulsando intensamente no espectro dos raios-x.

Segundo Sandro Mereghetti, ligado ao observatório de Milano e um dos autores da descoberta, o novo objeto não é uma anã branca comum. Enquanto a maioria das anãs brancas englobam pouco mais que a metade da massa do Sol em um objeto do tamanho da Terra, o novo objeto contém pelo menos o dobro da massa, mas com diâmetro da metade da Terra. Além disso, o novo objeto dá uma volta sobre seu eixo a cada 13 segundos, o que o torna o mais rápido entre as anãs brancas conhecidas.

No entender de Mereguetti, provavelmente a anã branca cresceu de modo incomum por roubar o gás de sua estrela companheira, em um processo chamado acreção. Por ter ultrapassado 1.3 massas solares o objeto atingiu seu ponto crítico e poderá explodir ou colapsar formando um objeto ainda mais denso chamado estrela de nêutrons.


Supernova
A explosão de uma anã branca é a principal explicação para as "supernovas tipo Ia", eventos tão brilhantes que são usados pelos cientistas como marcadores padrão para a medição da expansão do universo.

Até essa descoberta, os astrônomos não haviam sido capazes de encontrar uma anã branca de acreção em um sistema binário onde as massas pudessem ser medidas de forma tão precisa. "Essa é nossa Pedra de Roseta. A precisão em determinar a massa de duas estrelas em um sistema binário de anã branca é crucial. Estudando o sistema podemos reconstruir o passado da estrela e tentar calcular como será seu futuro", disse Mereguetti.

Embora esteja bastante longe da Terra para representar qualquer ameaça, a explosão do objeto será um evento extraordinário. Os cálculos sugerem que no primeiro momento o brilho será maior que o da Lua Cheia e será tão intenso que poderá ser visto até mesmo durante o dia. Apesar desse dia ainda estar longe, não deixa de ser fascinante poder observar o desenvolvimento dessa estrela, especialmente durante sua fase de maior agonia e tensão.



Arte: Concepção artística ilustra a estrela anã branca e sua companheira HD49798, em uma hipotética observação nas imediações do sistema. Crédito: Francesco Mereghetti/NASA/ ESA/T.M. Brown (STScI).

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