Segunda-feira, 24 mai 2010 - 09h07
Depois da Lua, Júpiter é um dos primeiros alvos escolhidos pelos novos astrônomos que adquirem um telescópio. O planeta é de fácil localização e suas manchas e faixas são realmente fascinantes. Entretanto, algo muito estranho aconteceu com o gigante gasoso nos últimos meses e uma grande faixa no hemisfério sul simplesmente desapareceu.
"Esse é um evento muito grande", disse o cientista planetário Glenn Orton, ligado ao Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, JPL. "Estamos monitorando de perto essa situação e ainda não entendemos o que está acontecendo". A faixa que desapareceu é conhecida com Cinturão Equatorial Sul, uma extensa região marrom formadas por nuvens, duas vezes mais larga que a Terra e vinte vezes mais comprida que nosso planeta. A faixa é tão grande que podia ser vista por uma distância maior que a metade de todo o Sistema Solar. Visto através de qualquer telescópio, mesmo os de pequeno porte, Júpiter sempre apresentou a típica assinatura duas largas faixas na região equatorial, mas os novatos que observarem o planeta nesse momento verão apenas uma faixa. "É realmente muito estranho", disse o astrônomo amador Anthony Wesley, da Austrália. Apesar de amador, Wesley é um veterano observador de Júpiter e se tornou famoso por ter descoberto em 2009 a colisão de um cometa contra a atmosfera joviana. Wesley já havia reparado que a faixa equatorial estava sumindo, mas não esperava que ela desaparecesse completamente. Orton, do JPL, não acredita que a mancha tenha desaparecido, mas que apenas está obscurecida por algum tipo de nuvem. "É possível que cirrus de amônia tenham se formado no topo da SEB (Cinturão Equatorial Sul), escondendo-a de nós". Na Terra, nuvens cirrus são formadas por cristais de gelo, mas em Júpiter os cristais são feitos de amônia (NH3), ao invés de água. No entender de Orton, uma das suspeitas sobre o que causou esse tipo de nuvem é a mudança nos padrões globais de vento que trouxeram materiais ricos em amônia até a zona superior da faixa SEB, criando o estágio inicial dessa formação na alta atmosfera. "Adoraria enviar uma sonda até lá para ver o que está acontecendo", disse o cientista. Apesar de intrigante, essa não é a primeira vez que a SEB enfraquece. Segundo John Rogers, diretor da Associação astronômica Britânica, a faixa enfraquece a intervalos regulares e as últimas vezes em que isso aconteceu foi em 1973-75, 1989-90, 1993, 2007, 2010. O desvanecimento de 2007 se encerrou precocemente, mas em outros anos a faixa ficou praticamente imperceptível, como está acontecendo agora. Enquanto os mistérios da faixa equatorial jupteriana não são totalmente desvendados, uma boa pedida é observar o gigante planeta gasoso assim mesmo. Júpiter é muito fácil de ver e atualmente está nascendo às 02h30 da manhã no quadrante leste (aquele em que o Sol nasce) e pode ser acompanhado até que os primeiros raios de Sol interfiram na observação. Como em qualquer observação noturna, leve uma cadeira confortável e um pequeno cobertor. Apesar de estar desfalcado de uma das faixas, observar Júpiter na companhia de bons amigos é sempre um programa agradável. Com ou sem faixas! Bons céus!
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