Segunda-feira, 19 mar 2012 - 06h42
O olho humano é fundamental para a astronomia. Sem a capacidade de ver, o universo luminoso das estrelas, planetas e galáxias seria fechado para nós, e permaneceria desconhecido para sempre. No entanto, os astrônomos não podem se contentar apenas com o que veem e buscam no invisível a grande revelação cósmica.
Clique para Ampliar Além do âmbito da visão humana há um espectro eletromagnético inteiro de fascinação. Cada tipo de luz, desde as ondas de rádio até os raios gama, revela algo único sobre o Universo. Alguns comprimentos de onda são melhores para estudar os buracos negros, outros podem revelar estrelas recém-nascidas e planetas enquanto outros nos mostram os primeiros anos da história cósmica. Para pesquisar esse universo de possibilidades são usados os mais diversos tipos de telescópios, capazes de vasculhar de ponta a ponta todo o espectro eletromagnético. Um desses instrumentos é o Telescópio Espacial Fermi, que opera no comprimento dos raios gama e que acaba de cruzar uma nova fronteira espectral. "Fermi está registrando fótons "malucos", altamente energéticos", disse o astrofísico Dave Thompson, ligado ao Goddard Space Center, da Nasa. "Ele está detectando tantos deles que nos possibilitou criar esse mapa, que mostra todo o céu a partir do limite das energias muito altas, na região entre 10 e 100 bilhões de eletrons-volt", disse o cientista. Clique para Ampliar Para que o leitor tenha ideia da magnitude do que foi registrado, a energia que nossos olhos veem consiste de fótons de cerca de 2 a 3 de elétron-volts. Deste modo, a energia mapeada pelo telescópio Fermi é bilhões de vezes mais intensas, algumas delas com cerca de 300 bilhões de eletrons-volt. Ao contrário dos telescópios óticos convencionais, os fótons de raios gama são tão energéticos que não podem ser guiados por espelhos ou lentes. Em vez disso o telescópio Fermi utiliza sensores que são mais parecidos como um contador Geiger. Se pudéssemos "ver" a energia que chega até os sensores, testemunharíamos poderosas balas de energia disparadas há milhões ou bilhões de anos-luz de distância, provenientes de buracos negros supermassivos ou explosões hipernovas. O céu seria um frenesi de atividade. Antes de o telescópio ser lançado, em junho de 2008, havia apenas quatro fontes celestes conhecidas de fótons nesta faixa de energia. "Em 3 anos Fermi descobriu quase 500 a mais", disse Thompson.
As outras fontes, no entanto, são conhecidas e têm algo em comum: a brutal energia. Entre elas estão os buracos negros supermassivos, chamados blazares, os restos de explosões de supernovas ou estrelas de nêutrons em rápida rotação, conhecidos como pulsares. Alguns dos raios gama parecem vir das "Bolhas de Fermi" - estruturas gigantes que emanam do centro da Via Láctea e que abrange cerca de 20 mil anos-luz acima e abaixo do plano galáctico. Até agora, a formação dessas bolhas é um verdadeiro mistério, mas que poderá começar a ser revelado com o estudo do novo mapa. "Nos próximos anos, Fermi deverá revelar algo novo sobre todos esses fenômenos, o que os forma e porque eles geram esses níveis de energia verdadeiramente sobrenaturais", disse David Paneque, um dos principais estudiosos do fenômeno junto ao Instituto Max Planck, na Alemanha.
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