Quarta-feira, 27 dez 2017 - 08h35
Por Rogério Leite
Há seis anos, um megaterremoto de 9.1 magnitudes sacudiu a costa do Japão provocando um dos maiores tsunamis da História. O abalo foi tão intenso que os infrassons gerados se propagaram tão alto que até um satélite de sensoriamento remoto tremeu ao som das ondas sísmicas.
Clique para ampliar A revelação do fenômeno foi publicada recentemente no periódico especializado Geophysical Research Letters tendo como base os dados registrados pelo satélite europeu GOCE, que já reentrou na atmosfera e tinha como missão registrar as tênues variações do campo gravitacional da Terra. Para realizar o seu trabalho, o GOCE precisava manter a órbita e altitude altamente estáveis através de diversos sistemas que compensação, de modo que apenas as variações do campo gravitacional fossem registradas. No entanto, no dia 11 de março de 2011 o satélite registrou duas anomalias muito acentuadas e que só recentemente foram explicadas pelos cientistas da Agência Espacial Europeia, ESA e atribuidas ao megaterremoto que atingiu o Japao. De acordo com os pesquisadores, a primeira anomalia foi detectada sobre o oceano Pacífico 30 minutos após o terremoto e a segunda cerca de uma hora depois, quando o GOCE estava sobre a Europa. Segundo os cientistas, as ondas acústicas se propagaram até 270 km de altitude, onde orbitava o satélite GOCE e fizeram a densidade do ar variar abruptamente naquela região. Como consequência, o satélite acompanhou essas variações subindo e descendo cerca de 20 km por mais de 2 horas, ao mesmo tempo em que os mecanismos de compensação tentavam manter o satélite na altitude nominal. Esse foi a primeira vez que um satélite conseguiu registrar infrassons e pode sinalizar o desenvolvimento de uma nova ferramenta de análises para os sismologistas. "Os sismologistas estão muito interessados nessa descoberta, pois até agora eles não tinham qualquer instrumento espacial similar aqueles existentes em solo", disse o físico e autor do estudo Raphael Garcia, ligado ao Research Institute in Astrophysics and Planetology, na França.
Em solo, existem centenas de sensores capazes de ouvir esses sons e triangular a fonte geradora, assim como a energia que a gerou. A análise desses dados é que permite aos governos o monitoramento do cumprimento do tratado de não realização de testes nucleares. Recentemente, os registros de infrassons foram usados também para calcular a energia do meteorito que caiu na cidade russa de Chelyabinsk, em fevereiro de 2013. Com a descoberta, novos instrumentos poderão ser desenvolvidos especificamente com essa finalidade e então embarcados em satélites de baixa altitude. Isso permitirá aumentar capacidade de detecção e acompanhamento de eventos acústicos de grande energia e também fornecer pistas sobre o comportamento de algumas espécies de animais diante desses eventos.
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