Segunda-feira, 21 out 2013 - 10h15
Por Delberson Tiago de Souza
A beleza de uma astrofotografia não se resume ao número de estrelas ou à intensidade de suas cores, pois a quantidade de informação inserida em cada pixel constituinte é inimaginável, tornando-a tão rica quanto bela. Através das mais variadas análises é possível extrair dados que nos revelam os segredos do Universo contribuindo para o avanço da jornada humana em direção ao desbravamento do cosmos.
Clique para ampliar Uma pequena fração do céu, ao ser registrado por uma câmera, é capaz de revelar distintos objetos invisíveis ao olho humano. Alguns deles estão localizados em regiões tão distantes de nós que a própria mente humana sofre dificuldades em mensurar a distância, pois é algo que está muito além dos limites conhecidos em nosso cotidiano. Apenas uma mente aguçada é capaz de romper as barreiras infligidas pelas limitações evolutivas da nossa espécie, sendo hábil o suficiente para imaginar novos mundos e um espaço com dimensões infinitas.
Tais corpos são assim chamados por estarem fora do Sistema Solar e são aquilo que há de mais distante observado pelo homem. Entre os DSOs estão as nebulosas, aglomerados, estrelas binárias, galáxias, pulsares etc. Em especial, a cena nos revela uma das regiões mais belas do céu: o centro da Via Láctea, a nossa própria galáxia. Clique para ampliar Devido aos braços formados por nuvens de poeira interestelar extremamente densas, que bloqueiam a luz dos objetos que se encontram atrás deles, não é possível ver diretamente o núcleo da galáxia. O que vemos é apenas a silhueta destas nuvens contra um plano de fundo iluminado. Tais silhuetas são conhecidas como Nebulosas Escuras.
Através de círculos brancos, marcamos alguns objetos de céu profundo que estão classificados nos três catálogos astronômicos mais conhecidos: o famoso Catálogo Messier ou M, que é o catálogo mais popular e possui 110 objetos, o NGC (New General Catalog), um dos catálogos mais extensos com quase 8 mil objetos e o IC (Index Catalog), que possui mais de 5 mil objetos descobertos após o fechamento do catálogo NGC em 1888. Na cena foram marcados os seguintes objetos de céu profundo: M4, M7, M8, M20, NGC 6281, NGC 6334, NGC 6357, NGC 6383, IC 4604 e IC 4628 e cada um deles mereceria um artigo inteiro sobre as suas propriedades e particularidades. A região inferior central com brilho amarelo é o centro da Via Láctea. Lá se encontram os objetos mais massivos e numerosos da galáxia, tornando-a a região mais densa e brilhante.
Clique para ampliar Na imagem acima selecionamos três regiões bastante interessantes, mas com um pouco mais de ampliação e detalhes. Na região superior central temos a famosa Antares, estrela gigante vermelha situada a 550 anos-luz de distância. No mesmo enquadramento vemos o aglomerado globular M4, a 7200 anos-luz de nós e o complexo de nuvens na estrela Rho Ophiuchi, a 394 anos-luz de distância. Na parte inferior esquerda da imagem vemos o objeto Messier 8 (M8), também chamado de Nebulosa da Lagoa, localizado a 4100 anos-luz da Terra. Vemos também a Nebulosa Trífida, ou Messier 20, localizado a 5200 anos-luz de distância. Na região central se destaca o objeto NGC 6334, ou Nebulosa Pata do Gato, situado a 5500 anos-luz de distância e também NGC 6357, a Nebulosa War and Peace, a 8 mil anos-luz de do nosso planeta.
Enquanto uma foto comum precisa entre 1/100 ou 1/500 segundos para ser feita, uma imagem astronômica requer muitas vezes esse tempo. Para se ter uma ideia, para registrar a cena mostrada neste artigo foram necessários cerca de 35 minutos de exposição. Tal diferença se deve ao fato de que os objetos celestes estão muito distantes e a sua luz chega até nós de maneira muito tênue, por isso fazemos exposições tão longas para conseguirmos registrar o objeto de interesse. Além disso, devido ao movimento de rotação da Terra os objetos se movimentam no céu. Assim, um sistema de acompanhamento de alta precisão precisa ser empregado para evitar o surgimento das trilhas deixadas pela luz das estrelas. O Universo é assim, cheio de tesouros em cada pedacinho do aparente vazio. Cabe a nós, seres em plena evolução, nos esforçarmos para entendê-lo e a partir de cada fragmento encontrado, montar esse imenso quebra-cabeça e descobrir as nossas próprias origens.
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