Muitos iniciantes acreditam que o parâmetro mais importante a ser levado em consideração durante a escolha do telescópio é o seu poder de ampliação. E não é para menos, afinal todos querem ver os planetas bem de perto, não é mesmo?
No entanto, ao contrário do que se pensa, o parâmetro mais importante de um telescópio é a sua abertura, que como foi explicado anteriormente se refere ao diâmetro da objetiva no caso dos refratores, ou do espelho primário no caso dos refletores. O diâmetro da objetiva ou do espelho principal tem papel decisivo na performance do telescópio, uma vez que quanto maior for seu diâmetro mais luz será captada e melhor será a definição da imagem do objeto focalizado. Ou seja: quanto maior a abertura, mais luz será captada e melhor será a imagem observada.
Ampliação
Muitos fabricantes juram de pés juntos que seus telescópios são capazes de ampliar 600 vezes ou mais e alardeiam sem nenhum constrangimento que isso é conseguido com uma objetiva de 60 milímetros.
Em teoria, qualquer telescópio pode ampliar infinitamente, apenas diminuindo o tamanho da ocular (aquele segundo jogo de lentes onde colocamos nossos olhos para ver o céu). Acontece que quanto mais ampliamos a imagem de um planeta ou objeto, mais escura ela ficará. Se apontarmos um telescópio de 60 milímetros para Júpiter (o maior planeta do sistema solar) e aplicarmos a ele 600 vezes de aumento, a imagem vista no visor (ocular) será a de uma bolota completamente irreconhecível, sem foco e sem definição, que em nada se parecerá com o gigante gasoso.
Como dissemos, existe uma regra bem simples para se determinar a maior ampliação possível de um telescópio: Multiplique por dois a abertura em milímetros. No caso de um equipamento de 60 milímetros o máximo aumento permitido será de 120 vezes. Naturalmente, essa regra pode variar de acordo com a qualidade ótica das lentes e muitos observadores experientes nem usam toda a capacidade de ampliação do instrumento. Com 50 vezes de aumento já é possível ver os anéis de Saturno, as faixas de Júpiter e suas quatro luas principais.
Turbulência
Por melhor que seja um telescópio e seu conjunto de lentes, existe um problema muito sério que afeta a observação do céu e que você vai perceber logo nas primeiras sessões: a atmosfera da Terra limita espetacularmente a visualização. Toda a luz que vem das estrelas e planetas passa através de uma densa camada de ar antes de chegar ao telescópio, o que distorce a imagem que vemos deles. Esse efeito é chamado de "seeing" e se torna mais intenso e incômodo quanto maior for a abertura do telescópio. O seeing afeta principalmente a observação dos planetas e da Lua e quanto maior a ampliação usada, mais os efeitos da turbulência da atmosfera serão perceptíveis.
Numa noite normal e com pouca turbulência, o seeing limitará o limite de ampliação e dificilmente você conseguirá aplicar mais de 250x de aumento. Isso faz com que telescópios de 8 e 10 polegadas (200 mm e 250 mm) não possam ser utilizados em sua plenitude, apesar de permitirem aumentos de 400x e 500x respectivamente. Para que possam ser usados com aumentos maiores normalmente são levados para o alto das montanhas, onde os efeitos da atmosfera são menores.
Tripés e montagens
Como se sabe, a Terra completa uma revolução a cada 24 horas o que faz com que os planetas e estrelas se movam no céu. Naturalmente, esse movimento é apenas aparente, mas cria um problema para o observador. Se olharmos para qualquer planeta sem o uso de instrumentos, ele aparentará estar na mesma posição do céu por muitos minutos. Mas se olharmos através de um telescópio o movimento da Terra será perfeitamente perceptível e em poucos segundos nosso planeta atravessará todo o campo de visão da ocular e sumirá, nos obrigando a corrigir o apontamento do instrumento a cada instante. Quanto maior o aumento, mais rápido o objeto cruza a ocular e em alguns casos nem dá tempo de fazer as observações!
Para facilitar o rastreio do objeto no céu, os telescópios são vendidos junto a uma montagem, disponível em dois tipos básicos: a montagem altazimutal ou "altaz" e a montagem equatorial.
Na montagem altazimutal o telescópio se movimenta sobre dois eixos, que permitem apontar o instrumento para cima e para baixo ou para os lados. A montagem equatorial, por sua vez, é alinhada com o eixo de rotação da Terra e quando corretamente calibrada permite seguir o objeto com o movimento de apenas um dos eixos.
Montagem Altazimual
A montagem altazimutal é preferida quando o telescópio é usado para observações terrestres, uma vez que permite apontar facilmente o instrumento para qualquer um dos lados, facilitando seguir pessoas, barcos, animais, etc. Quando acoplada a um telescópio refrator torna-se um excelente equipamento para observação de paisagens distantes.
A montagem Dobsoniana é uma variação da montagem altazimutal e faz grande sucesso entre os fabricantes amadores de telescópios (ATMs), pois suporta facilmente grandes instrumentos com mais de 250 milímetros de abertura. Neste tipo de montagem o astrônomo segue o planeta ou objeto guiando o tubo do telescópio, que fica preso à montagem, que desliza em qualquer direção.
As montagens equatoriais são as mais utilizadas pelos astrônomos e sua principal vantagem está em poder rastrear os objetos no céu. Antes de ser usada ela deve ser alinhada com o eixo celeste e uma vez calibrada permite que o objeto seja seguido com apenas um movimento de eixo, mantendo-o constante no centro da ocular. Devido a essa característica, muitas montagens equatoriais permitem o acoplamento de um motor elétrico que mantém o eixo girando na mesma velocidade da Terra. Assim, o objeto seguido permanecerá sempre fixo no campo de visão, automaticamente.
Por permitir o rastreio do objeto, a montagem equatorial é a mais utilizada pelos astrofotógrafos, que necessitam de longos períodos de exposição dos objetos, que precisam se manter imóveis durante a foto.
Tremidas
De nada adianta você ter um belo telescópio e uma excelente montagem se esta não estiver firmemente apoiada. Se o apoio não for estável você praticamente não conseguirá manter o objeto imóvel e até mesmo pequenos sopros de brisa leve farão todo o Sistema Solar sacudir frente aos seus olhos!
Telescópio Refrator
Esse tipo de telescópio é composto de um tubo longo, onde na extremidade principal está montado um conjunto de lentes, chamado objetiva. Como dito, esse tubo tem aproximadamente 1 metro de comprimento por 100 milímetros de diâmetro, e se mantém apoiado sobre uma das montagens descritas acima. Os modernos telescópios refratores produzem excelentes imagens que possibilitam cenas mais nítidas e contrastadas e são os preferidos pelos astrônomos para observações da Lua e dos planetas. Os refratores também sofrem menos os efeitos atmosféricos que atingem os refletores, como por exemplo, a condensação do ar no interior do instrumento. Eles também exigem menos manutenção que os refletores.
Mas nem tudo são flores e toda essa qualidade tem seu preço, tornando os telescópios refratores muito mais caros que os refletores se considerarmos a mesma abertura.
Refratores de grande porte podem custar vários milhares de dólares e mesmo assim ainda serão considerados de pequeno porte. Grandes objetos como constelações e galáxias se tornam difíceis de serem observados, uma vez que a grande distância focal do instrumento restringe o campo de visão celeste. Além disso, o tubo alongado desse tipo de instrumento exige uma montagem extremamente rígida, caso contrário as observações poderão ser tremidas, como explicado acima.
Telescópio Refletor
Ao contrário do modelo refrator, os refletores usam um espelho ao invés de lente como elemento principal. O modelo mais comum é o popularmente conhecido "Newtoniano" que utiliza um espelho côncavo montado no fundo do tubo do telescópio. Outro espelho, chamado "secundário" direciona a luz captada pelo espelho principal em direção à ocular. Esses modelos permitem grandes aberturas e quando bem construídos produzem excelentes imagens.
Grandes telescópios refletores apoiados sobre montagens dobsonianas são muito populares entre os observadores. Modelos entre 114 mm e 200 mm são bastante comuns, tanto em montagens equatoriais como dobsonianas e são uma das melhores opções de escolha para os iniciantes.]
Manutenção
Diferente dos telescópios refratores, os newtonianos requerem manutenção eventual em seu conjunto de espelhos e visam um alinhamento do eixo ótico. Esse processo se chama colimação e leva alguns minutos para ser concluído e normalmente está descrito nos manuais que acompanham os instrumentos. Telescópios de boa procedência permanecem muito tempo sem precisar de colimação, mas vez por outra o alinhamento deve ser checado.
O tubo dos telescópios refletores é normalmente aberto, deixando o espelho principal exposto ao ar e umidade. Como recomendação proteja sempre o telescópio com um saco plástico quando não estiver em uso, pois a poeira poderá se acumular na superfície do espelho, que precisará ser limpo com cuidado.
Fotos: No topo, detalhe da abertura de um dos telescópios usados no Apolo11, com abertura de 127mm. Aplicando-se a fórmula, o aumento máximo é 254 vezes (127mm x 2), mas na prática pode se chegar a uma ampliação maior devido à boa qualidade do instrumento. Na seqüência vemos os diversos tipos de montagens usadas nos telescópios e acima dois modelos muito comuns de instrumentos> O refratores que usa lentes e o refletor que usa espelhos.